Setembro é um mês especial para a Lyra Mojimiriana. Há dois anos, alunos da instituição estiveram em Hohen Neuendorf, cidade vizinha a Berlim, na Alemanha, com um propósito específico e histórico: ajudar os alunos da escola Niederheide a pintar uma fatia do Muro de Berlim. Agora, com mais de um ano em solo brasileiro, a Lyra planeja dar a ele um local definitivo.
Os estudos já estão sendo feitos para que o único pedaço do Muro de Berlim no Brasil (e uma das poucas na América do Sul) seja fixado em Mogi Mirim, no interior de São Paulo, ao lado da sede da instituição musical. O local será aberto ao público para visitação e técnicos trabalham no esboço para o projeto arquitetônico que envolverá a peça histórica.
Crianças alemãs e da Lyra Mojimiriana pintaram o Muro em 2015, em Hohen Neuendorf, na Alemanha
Considerando a importância histórica e cultural do Muro e o ganho para a cidade enquanto atrativo turístico, a Lyra está preparando uma campanha para arrecadar fundos que serão destinados à sua instalação definitiva no Complexo do Lavapés.
“Nosso objetivo é proporcionar às pessoas a possibilidade de conhecer a história por trás desse muro e fazer com que elas reflitam sobre a atualidade. Temos vários ‘muros’ a serem derrubados, como a intolerância, a incompreensão. Essa peça histórica chegou até nós com a finalidade de unir as pessoas através da música”, comenta o diretor artístico e maestro da Lyra Mojimiriana, Carlos Lima.
Antes da colocação definitiva, o Muro ainda poderá transitar, desde que envolvido em uma proposta de interesse humanitário, seja cultural ou filantrópica. “Em outubro, temos uma proposta, ainda não confirmada, de expor provisoriamente o Muro noutro local em Mogi Mirim. Em novembro, já confirmado, o Muro ficará, até meados de março, no Avenida Mall em Mogi Guaçu, onde, em parceria com a Lyra, o proprietário alemão Peter Grunow promoverá uma série de palestras junto à uma exposição sobre a história do Muro e a separação das Alemanhas no pós-guerra”, acrescentou o maestro. Para isso, no próximo mês, o empresário vai se encontrar em Berlim com os parceiros da Lyra com o objetivo de selecionar fotos e materiais para a exposição.
HISTÓRIA
O fragmento foi exposto pela primeira vez em julho de 2016, durante o Festival de Inverno de Mogi Mirim (FESTIMM). Com a instalação do Muro em definitivo, a cidade poderá se tornar uma das principais do Estado a ser visitada pelos turistas e, consequentemente, gerar mais empregos e movimentar a economia local.
Ele foi pintado por cerca de 20 crianças – brasileiras e alemãs, na sede da própria escola, que a comitiva de Mogi Mirim teve a oportunidade de conhecer. Com tema infantil, a pintura é composta por uma clave de sol e notas musicais, uma pomba branca e vários símbolos representando a paz e o amor, um violino e as mãos e os pés dos pequenos artistas por toda sua extensão.
As palavras “Peace”, em inglês, e “Musik”, em alemão, demonstram que a Paz e a Música são universais e independem de idioma, crenças, classes sociais ou qualquer outra barreira que tentem impor entre os povos. As crianças também assinaram e eternizaram seus nomes no Muro.
A logística para trazer o fragmento foi complexa. Os trâmites envolveram a participação do parlamento e governo alemão com a embaixada da Alemanha em São Paulo. A carga foi recebida pelo porto de Santos como bagagem diplomática no final de maio e posteriormente foi entregue à Lyra, com todos os documentos que envolvem a doação, como o certificado de autenticidade e autorizações necessárias.
O Muro de Berlim do Brasil mede 3,60 metros de altura, 1,50 metro de largura e pesa cerca de quatro toneladas. É o único no Brasil e um dos poucos fragmentos originais na América do Sul: há um no Chile, em local público e outros na Argentina, estes, comprados por um grupo de mídia e colocados em sua sede, em Buenos Aires.
